sábado, 20 de agosto de 2011

Songbird

Observando os anos que se passaram e os dias que tem ficado para trás, posso perceber as mudanças no que para mim antes era o cotidiano, nada além do comum. Quando a gente se afasta por um tempo, mesmo que este seja mínimo, a gente começa a enxergar coisas que antes os nossos sentimentos tentavam encobrir. Mas tudo não passa de uma linha tênue, um simples limite imaginário que em frente a olhos despreparados ou desacostumados parece uma montanha.

É fato que com o tempo as pessoas se afastam, afinal os interesses mudam, nada mais do que eu esperava.Acontece que esse tipo de separação, rápida, normalmente se dá quando as pessoas não são assim tão próximas, pelo menos eu pensava assim até um tempinho atrás. Mas hoje posso ver que o tal limite resolveu pegar mais gente. Alguns foram levados e eu nem me importei,mas...Como de repente as conversas compartilhadas, as risadas escondidas por trás de uma amizade inconseqüente e de segredos velados, fios de cabelo que já estiveram tantas vezes na ponta de meus dedos, e que tiravam de mim lamentos quando eram cortados com a desculpa de que parecer o Liam do Oasis não agradava os progenitores, brincadeiras que as vezes eram retribuídas com tapas meus, comentários idiotas e caretas engraçadas, foram substituídas por um simples Bom dia com um abraço frouxo?

Até o dia daquela prova, eu nem tinha me dado conta desta distancia que ainda me deixa próxima. Mas naquele dia, quando depois de um bom tempo sem trocar olhares ou palavras, eu disse “Boa Sorte”, e como retribuição recebi um sorriso grande e familiar, com dentes enormes e engraçados que combinam com um rosto fino e nariz comprido, com cabelos desalinhados e castanhos, e uma cara de sono constante. Percebi que agora eu pertenço a um lado que se distancia, mas não por que eu queira, apenas por que a fatalidade quis assim. Mas sinto falta do tempo que o limite não tinha se intrometido no meio. Sinto falta das canções, do jeito como me entendia, e pegava no violão, da cara que fazia quando estava assustado e do jeito como enfrentava as pessoas. Do jeito desajeitado de jogar futebol, fato que contribuiu para a invenção de um apelido que se propagou, do jeito como demora a entender as piadas, do jeito travesso de menino Peter Pan, e até mesmo dos rompantes de carência.

Espero que um dia o limite me devolva todos aqueles que ele levou de mim, e que junto deles, em especial, me devolva assim como foram, aqueles que me fazem mais falta. Principalmente o meu amigo e interprete preferido de Songbird.

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