terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Tormento

Não.
Isso nunca vai dar certo, garoto. Ninguém se entregaria assim como você quer. Essa menina nasceu pra ficar longe de você e você nunca vai conseguir alcançá-la. Entende, moleque, você não tem idade para uma história de amor. Você acha que ela vai te esperar esse tempo todo? Vão aparecer outros meninos, ainda melhores por quem ela vai se deixar levar tranquilamente, você vai assistir cada passo, desde o momento quando ele for um "amigo bobo" até quando ela só falar dele. É claro, não vai acabar por aí, porque eles vão estar saindo direto e ela vai esquecer completamente de você, mas vai ser assim, devagarzinho, cada dia mais dolorido. Você vai estar sozinho do outro lado, porque quanto mais triste você estiver, mais as pessoas vão se afastar de você, você sabe disso. Lembra?
É... sozinho e inútil, porque sabe o que você vai poder fazer pra mudar alguma coisa? NADA! Ela nem vai ligar para seus avisos e preocupações, ou talvez até pareça ligar, mas ela vai estar fingindo, e o pior é que você vai perceber, afinal, ela sempre foi uma péssima atriz. Quando você perceber que ela está mentindo vai ser mais doloroso ainda.
Ok, ela te ama. Acredita, ama sim, mas você não faz ideia do quanto vai ser diferente o sentimento por alguém que está ali, com ela, o tempo todo, até mesmo nos momentos íntimos quando vocês costumavam estar sozinhos. Ele vai estar lá. Você não vai entender, afinal, ela não te amava tanto? Pois é, moleque, advinha? Ela estava enganada.
"O que você queria? eu tinha 17 anos!" E só quando ela disser isso, você vai se derrubar de uma vez. Vai entender que eu tenho razão. Vai se sentir patético, afinal, como você pode culpá-la? Daí você estará morto por dentro. As coisas vão voltar a ser preto e branco como eram antes dela e todo o resto da sua vida vai ser assim... imperfeito.
Mesmo porque, se você morresse agora, ninguém iria sentir sua falta.

sábado, 20 de agosto de 2011

Songbird

Observando os anos que se passaram e os dias que tem ficado para trás, posso perceber as mudanças no que para mim antes era o cotidiano, nada além do comum. Quando a gente se afasta por um tempo, mesmo que este seja mínimo, a gente começa a enxergar coisas que antes os nossos sentimentos tentavam encobrir. Mas tudo não passa de uma linha tênue, um simples limite imaginário que em frente a olhos despreparados ou desacostumados parece uma montanha.

É fato que com o tempo as pessoas se afastam, afinal os interesses mudam, nada mais do que eu esperava.Acontece que esse tipo de separação, rápida, normalmente se dá quando as pessoas não são assim tão próximas, pelo menos eu pensava assim até um tempinho atrás. Mas hoje posso ver que o tal limite resolveu pegar mais gente. Alguns foram levados e eu nem me importei,mas...Como de repente as conversas compartilhadas, as risadas escondidas por trás de uma amizade inconseqüente e de segredos velados, fios de cabelo que já estiveram tantas vezes na ponta de meus dedos, e que tiravam de mim lamentos quando eram cortados com a desculpa de que parecer o Liam do Oasis não agradava os progenitores, brincadeiras que as vezes eram retribuídas com tapas meus, comentários idiotas e caretas engraçadas, foram substituídas por um simples Bom dia com um abraço frouxo?

Até o dia daquela prova, eu nem tinha me dado conta desta distancia que ainda me deixa próxima. Mas naquele dia, quando depois de um bom tempo sem trocar olhares ou palavras, eu disse “Boa Sorte”, e como retribuição recebi um sorriso grande e familiar, com dentes enormes e engraçados que combinam com um rosto fino e nariz comprido, com cabelos desalinhados e castanhos, e uma cara de sono constante. Percebi que agora eu pertenço a um lado que se distancia, mas não por que eu queira, apenas por que a fatalidade quis assim. Mas sinto falta do tempo que o limite não tinha se intrometido no meio. Sinto falta das canções, do jeito como me entendia, e pegava no violão, da cara que fazia quando estava assustado e do jeito como enfrentava as pessoas. Do jeito desajeitado de jogar futebol, fato que contribuiu para a invenção de um apelido que se propagou, do jeito como demora a entender as piadas, do jeito travesso de menino Peter Pan, e até mesmo dos rompantes de carência.

Espero que um dia o limite me devolva todos aqueles que ele levou de mim, e que junto deles, em especial, me devolva assim como foram, aqueles que me fazem mais falta. Principalmente o meu amigo e interprete preferido de Songbird.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Rascunhos

Parágrafos desconexos, confie.

É inútil tentar lutar contra essas memórias.
Também é inútil tentar organizá-las.
Então apenas escreva, Felipe.

Pois é, querida, a insanidade já me atingiu. Apesar de que isso não lhe é novidade, uma vez que só minhas besteiras, bobeiras e palhaçadas te arrancam aquele sorriso largo que você tanto teima em esconder. Puxo sua mão para vê-la sorrir, só porque você não sabe que eu podia amar esse sorriso tanto quanto você o quisesse, mas se por acaso, eu estiver errado, não se esconda entre as nuvens, elas embaçam a sua luz e minhas noites sombrias me afogam como se voltassem a todo vapor.

Não lembro de como começou. Depois de perder a maioria dos motivos de continuar indo e vindo, assim, seu sorriso largo e seus cachos emaranhados espantaram meus fantasmas como se a pureza e felicidade que eles me passam se tornasse suficente para acalmar meu espírito assim, num piscar de olhos. E então as coisas ganharam luz novamente. Porque, como a lua, você passou a refletir a luz do sol e iluminar novamente dias ensolarados nas minhas noites intermináveis. E eu amo a lua. Imagina eu sem a minha lua particular? Nem todas as estrelas, cruzeiros e escorpiões, muito menos as constelações, Sirius e Antares me confortariam pela perda do meu satélite invertido, satélite que me atrai para orbitar ao seu entorno.

Fique bem, brilhe linda, sorria sempre e me ganhe mais.

Eu começo esse texto pelo final, e como o Felipe que vos escrever tão longe está do final desta história, começo pelo que imagino ser o futuro que me espera no fim deste caminho. Começo então pela escolha. Sendo sincero e sensato (se é que é possível ser ainda mais) esta escolha nunca deveria existir. Ainda sendo sensato, imagine-se como uma criança. Uma criança que adora uvas, mas que não sabe que uvas tem caroço e que não se deve comer uma por inteiro, pois o caroço tem um gosto azedo. Contudo, depois que seu avô lhe ensinara, o menino já não sabe mais o que escolher no lanche. O morango o fazia tão bem, e não tinha nenhuma contraindicação, o menino queria preferir a tal fruta vermelha. A uva, por outro lado, o fez talvez até melhor, mas é tão mais difícil com ela.

A única diferença entre você e ela, é que, enquanto você não souber desse meu romance secreto, eu posso me aventurar a te abraçar, a te fazer sorrir e a segurar sua mão. Por que? Ué, não faço ideia. É que um passo em falso ou precipitado e algumas palavras mal interpretadas fariam tudo ir por água abaxo.

domingo, 14 de agosto de 2011

Filho

Era todo o jeito da mãe. Fisicamente era idêntico à ele, a não ser pelo nariz e pela cor dos cabelos, mas não precisava de mais nada para lembrá-lo da falecida esposa toda vez que o via: era ruivo. Os mesmos cabelos que o conquistaram. A maioria pode achar natural, qual o homem que não sonha com uma ruiva? Mas para ele era mais do que o fetiche.
Típico gênio daqueles que quase nunca se vê, o ainda jovem viu na ruiva uma raridade, uma aberração, a aberração mais linda que já vira. Pensou na improbabilidade de seu nascimento e depois na ainda maior dela se interessar por ele; de rir de suas piadas; de ouvir o que falava; de lhe ceder seu amor.
Mas ela se fora, e deixara aquela criança. No começo doía olha-la, saber que se não fosse por ela, ainda estaria junto da ruiva que teimava em não entender as mais simples equações, que era incapaz de ligar um simples aparelho de som antes de ligar todos os outros da casa, daquela que lhe ensinou a lição mais importante de sua vida.
Com o tempo aprendera a amar o filho, mas desde sua perda voltara a ser o homem frio e sem vida das eras sombrias pré-ruiva. Certa vez, quando o menino ruivo lhe perguntou por que não conseguia ver as estrelas a noite (típica pergunta da ruiva, que raiva...), teve como resposta uma seca explicação da luminosidade da cidade e afins, mas o pai sabia que ele não entenderia, e não ligava.
A criança era forte como a mãe e suportava a frieza do pai e ele se aproveitava do fato: se permitia nunca lutar para mudar, para voltar a ser o que outrora fora junto da amada. Até que um dia o destino resolveu cobrar a conta de sua apatia. A criança acordou febril, trêmula, abatida, como o gênio nunca viu, como ele nunca esperou ver, como ele nunca considerara possível, como nunca achara que, sendo filho de quem era, seria possível ficar.
Então o desespero se apossou dele: a frieza calculista para resolver os mais complexos problemas se esvaíra. Correu para o hospital. Quando se deu conta, já estava cantando pneu na porta da emergência.
A criança ficou o dia inteiro em observação fazendo exames, e o pai ficara o dia inteiro em reflexão. Pensou na juventude de estudo, sem festas, sem graça e como a ruiva havia mudado tudo, lhe mostrado o que realmente importava e finalmente em como tudo tinha acabado. Sem aviso prévio. Sem chance. Sem volta.
Até que o gênio, tão fodástio, se tocou que tinha um filho, a junção daquela que mais amara e dele mesmo, sua imagem e semelhança. Como tinha sido egoísta, um perfeito babaca.
A esse ponto, só queria abraçá-lo.
A noite a criança foi liberada e recebeu o abraço que seu pai queria lhe dar - um abraço vacilante, porque hábitos não mudam do nada - mas um abraço libertador, um pedido de desculpas silencioso, que o menino recebera como se não o fosse preciso.
A caminho de casa, passando por um viaduto, o homem ouviu, do nada: -Pai, já sei onde estão as estrelas: elas caíram e estão no morro!
Nesse momento o gênio foi fuzilado por diversos pensamentos e sentimentos. Como aquela resposta era típica da ruiva! Como nunca tinha reparado como era bonita a cidade durante a noite, como o filho herdara a capacidade de sua mãe de despertar-lhe o melhor, como o amava.
Se emocionou, do seu jeito - digamos que chorou por dentro. Por fora, se resumiu a dar um sorriso gostoso como a tempos não dara e a responder: -É uma ótima teoria, meu filho.

sábado, 13 de agosto de 2011

Ao dia dos pais

Você sempre me ensinou a não ligar pra essas datas, e eu não ligo mesmo. Eu sei que são datas capitalistas, que na realidade servem mais pro comércio lucrar do que outra coisa. Mas infelizmente, com todos esses comerciais de pais e filhos, com todas essas pessoas querendo estar próximas de seus pais, eu confesso que a saudade só faz aumentar. Eu não ligo tanto para essas datas, pois para mim as pessoas deveriam estar próximas de seus pais todos os dias, e não por causa de uma só data. Mas confesso que ouvir quando os outros falam de como foi o dia dos pais me dá uma certa angústia, uma pontinha de inveja. E nesse ano está pior. Eu já não sonho contigo há tanto tempo, que todos esses sentimentos estão piores. Não há um dia que eu não pense em você, que eu não converse contigo, mas você já não me responde mais. Eu não quero parecer uma esquizofrênica louca, mas sinceramente, minha imaginação me conforta. Mas não está confortando mais. Eu sei que você tá aqui comigo, cuidando de mim, eu realmente acredito nisso. Eu sei que você de alguma forma sabe de tudo, que você está presente. Mas mesmo acreditando nisso tudo, mesmo pensando nas lembranças de uma forma positiva, mesmo tentando estar feliz, é inevitável que eu esteja triste, é inevitável que eu tenha vontade de chorar. Eu tento ser forte, eu juro, mas te confesso que há uns dias isso tá sendo impossível. Eu precisava de você aqui do meu lado, fisicamente. Eu precisava de um abraço seu, precisava conversar contigo. Por que você sumiu dos meus sonhos? Por que eu não converso mais contigo? Isso tudo amenizava a saudade e me confortava um pouquinho. Me fazia pensar que eu tava crescendo contigo aqui do meu lado ainda, mesmo que nas lembranças, nos sonhos e no coração.
Mas hoje está mais difícil. Na verdade, isso anda mais difícil. Eu estou escrevendo mais na esperança de que você volte pros meus sonhos, mais na esperança de imaginar as coisas de um jeito mais real, como sua voz ou frases que você provavelmente diria. Eu não me canso de imaginar conversas e abraços, mas nada disso é tão real como antigamente. Eu não sei o que mudou, e também não sei o que fazer para que tudo volte. Eu só espero, peço, faço meus apelos mentais para que você apareça.
E esse é meu texto é mais uma forma de apelo, é pra que você volte, esse desespero é pra que você apareça. Eu sei que esse dia deveria ser seu, mesmo que você não esteja mais presente, mas esse é o meu desejo de dia dos pais: um abraço seu.

sábado, 6 de agosto de 2011

"Ela será única. Você conhecerá outras pessoas, terá um flashback com a sua ex namorada, terá uma nova namorada, mas ela continuará sendo a sua preferida. Provará outros beijos, se sentirá frustrado, algumas vezes, ao perceber que aquela loira linda da festa não beija tão bem assim. Passará a mão em outros cabelos, alguns mais longos, outros mais curtos, mais cheios, mas de qualquer forma, sentirá falta dos cabelos dela, que de tão pouco se perdiam nos seus dedos. Você sentirá outros perfumes, amadeirados, cítricos, doces, e sentirá falta do cheiro da pele dela, que tinha um cheiro tão bom que te fazia fechar os olhos e suspirar fundo. Você chorará, toda noite, baixinho, sentindo a maior saudade que você já sentiu em toda a sua vida. Olhará para os lados, verá a vida passando, e sentirá uma falta quase mortal da vida que ela te proporcionava todos os dias. Você entenderá que a amava. Você entenderá que a ama. Você entenderá que ela será eterna. E-t-e-r-n-a. Você, ao conhecer outras com o mesmo nome, sentirá um aperto no peito ao dizer que esse nome é lindo, sentirá suas mãos tremerem ao lembrar que dizia que esse seria o nome da filha de vocês. O seu celular, ao tocar, após anos, após milhares de vezes, ainda desejará realizar uma ligação de vocês, aonde ela dirá que ainda te espera, e você dirá que está indo buscá-la, assim como em um texto que um dia ela escreveu. Você irá ler, palavra por palavra de tudo que ela escreveu um dia, e se surpreenderá ao ver que ela suplicava por você. Você se sentirá um idiota. Mas ela, ela continuará sendo única. Ela continuará sendo sua. Você continuará sendo dela. Mas a vida continuará. Ela fará um esforço descomunal para te esquecer, talvez, por alguns anos, ou até que toque a música de vocês, conseguirá. Lembrará de vocês com uma pequena tristeza mas com um grande afeto, assim como ela sempre disse, você ainda será a escolha dela, mas infelizmente, a vida lhe deu outras opções … Reticências, sua vida será repleta delas, assuntos não terminados, desejos não obedecidos, o maior e único amor da sua vida, perdido pela sua incapacidade de amar alguém. Você virá um dia para perto da casa dela, pensará uma, duas, três, mil vezes em um jeito de tentar achá-la, de descobrir se após tantos anos, ela ainda irá morar ali. Ela, irá para perto da sua casa, passará na sua rua uma, duas, três, mil vezes, na intenção de que você a veja e diga : ” Finalmente “. Ela passará mesmo na sua rua, porque sempre foi mais decidida que você, você ficará só planejando."
(Camila Archuleta)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011